O Metrô de São Paulo
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Sejam muito bem-vindos ao metrô de São Paulo, onde a gentileza e a educação são conceitos tão raros quanto encontrar um assento livre às seis horas da tarde.
Venham desfrutar de uma lista repleta de cortesia e respeito, duas grandes lendas urbanas para celebrar a verdadeira essência da estupidez humana.
Porta existe para entrar e sair
Eu sou uma pessoa educada. Eu sou uma pessoa paciente.
De longe vejo que o vagão não está cheio, porém, ao tentar entrar, três bundas olham para mim. Com educação e paciência, peço licença, o alarme soa, a porta fecha no meu nariz e vejo o trem ir embora.
Quando outros traseiros me olham no dia seguinte, o pedido de licença vem junto com duas cotoveladas e um empurrão.
No terceiro dia, se a bunda central bobear e não tirar a cara do celular, é ela quem estará do lado de fora vendo a porta fechar e o trem partir sem ela. Não vai nem entender o que aconteceu.
Eu era uma pessoa educada. Eu era uma pessoa paciente.
F – I – L – A: substantivo feminino
No mundo existe uma invenção chamada fila, onde pessoas se organizam uma atrás da outra seguindo uma ordem lógica, geralmente cronológica de chegada, para que todos sigam seu caminho em harmonia.
No metrô de São Paulo essa invenção ainda não chegou. Temos apenas algo chamado aglomerado de pessoas, onde quem chega primeiro é apenas mais uma vítima da grande pipoca carnavalesca, e o único resultado garantido é o atraso e o mau-humor coletivo.
Assento: lugar onde se pode sentar
Essa é a definição, não fui eu que inventei!
Não é lugar onde se pode pisar. Esse é o chão. Nem lugar onde se pode apoiar os pés. Então, ser iluminado, poderia tirar seus pés do assento do metrô?!
Quão egoísta é a pessoa que coloca a sola suja do sapato no local onde uma outra pessoa se sentará? Quão estúpido tem que ser esse ser humano?
Experimente climas exóticos
Os metrôs e trens de São Paulo possuem ar-condicionado para garantir o bem-estar dos milhões de passageiros diários e oferecem experiências inesquecíveis de climas para levar na memória para a vida toda.
Você pode ser contemplado com o clima safári desértico, onde você basicamente se desidrata ao ponto de ter alucinações e ver o oásis da avenida Paulista. E tem também o clima pico do Everest, que se você tirar a sorte grande e se posicionar no vórtice polar do Ártico, pode conversar com o Sid, o Manny e o Diego na Era do Gelo.
O festival sensorial
Uma amiga me disse que perdeu o olfato com a Covid. Tem certeza?, perguntei. Já experimentou andar no metrô para comprovar?
O metrô de São Paulo traz uma explosão de fragrâncias apenas para os fortes.
Tem o fã de colônia que entra na banheira de colônia pela manhã do lado esquerdo e o guerreiro do dia que às 7 horas da manhã já está com cheiro da jornada do dia inteiro do lado direito.
À frente tem aquele que aproveita o vagão lotado para abrir o pastelzinho de feira que parece recheado de cheetos parmesão e atrás tem outro respirando no seu cangote com hálito de alho.
O ápice é o exótico aroma que mistura o alho com a colônia, com o suor e o cheetos parmesão. Não há nada igual.
O DJ da linha azul
Hoje vou aproveitar para ler meu livro no metrô.
É nesse momento que entra o inseguro do viva-voz dizendo sem palavras, ‘não vai não’. Ele precisa muito da opinião alheia sobre uma briga ou um drama familiar, ou sobre o que comprar no mercado, então ele fala pelo viva-voz para iniciar a dinâmica de grupo.
Sai o inseguro e eis que entra o DJ da linha que adora compartilhar seu gosto musical sem fones de ouvido. Não importa se você gosta ou não de sertanejo universitário ou de uma batida de funk das antigas, você será obrigado a participar do show ao vivo.
Afinal, compartilhar é viver, e o DJ da linha está aqui para garantir que ninguém viaje em silêncio.
Dois corpos não ocupam o mesmo espaço
Será mesmo?
Não sei se esse princípio da impenetrabilidade da matéria se aplica ao metrô de São Paulo.
O vagão está lotado, mas a voz anuncia “Estamos aguardando a liberação do centro de controle para prosseguir viagem”. Enquanto o centro de controle não libera, a porta continua aberta e todos que chegam na plataforma dão seu jeito de entrar. A sensação é que, independentemente do tempo que ficar parado, as pessoas continuarão entrando, e entrando, e entrando. Ao infinito e além!
Tenho certeza de que você, usuário do metrô de São Paulo, se identificou com essa lista, e você que nunca teve a experiência, está se planejando para viver essa aventura cultural. Venha com seu melhor sorriso desfrutar de momentos indescritíveis.