O Machismo Estrutural

O machismo estrutural, muitas vezes imperceptível, está profundamente enraizado nas atitudes, comportamentos e culturas que nos cercam. Sua presença invisível molda constantemente a maneira como as mulheres são vistas e tratadas na sociedade, exigindo uma luta diária contra suas manifestações. Este fenômeno não se limita a ações individuais, mas se insere em sistemas sociais que perpetuam a desigualdade de gênero, tornando essencial a conscientização coletiva e a busca por mudanças significativas.

Reconhecer o machismo estrutural é o primeiro passo para desmantelar essa realidade. Podemos identificar como ele se manifesta em diversas esferas, desde o ambiente familiar até o mercado de trabalho, criando um espaço propício para a transformação social e a promoção da equidade de gênero.

Bom Dia Pra Quem?

Ao acordar, a mulher já olha para ele e pergunta “Espelho, espelho meu. Existe alguém mais bela do que eu?”. Seguindo as sábias palavras do coelho Tambor que dizia que se não tem nada de bom a dizer, não diga nada, o espelho permanece calado e apenas retorna uma cara amassada, olhos inchados e remelentos, cabelo desgrenhado e uma espinha na ponta do nariz.

Só queria um abraço quentinho do Olaf, nome que deu ao seu cobertorzinho em cima da cama, mas não tem essa opção. Precisa preparar as lancheiras das crianças, acordar as crianças, preparar o café da manhã, tirar a roupa do varal, tirar a comida do almoço do freezer, lavar a louça do jantar, pagar o condomínio, terminar a apresentação para a reunião das 10, regar as plantas, levar as crianças para a escola, fazer a feira, ligar para operadora de celular para reclamar pela quinta vez da cobrança indevida na fatura, comprar um presente para o coleguinha do filho que faz aniversário, correndo o risco do presente ser de valor inferior ao da lembrancinha que o filho trará para casa da festa, porque quando que o saquinho de balinhas de coco deixou de ser suficiente como lembrancinha de aniversário?! E são só 6 horas da manhã! Vamos lá, guerreira! Ao infinito e além!

Mestre Shifu disse que tudo é possível se você tiver paz interior. Ela pára um minuto para buscar no interior, bem no interior, a paz. Fecha os olhos, pensa em não pensar em nada, esvaziar a mente. Não consegue não pensar em nada, abre apenas um olho e de relance olha o relógio, passaram dois minutos, não está escutando as crianças, o que será que estão fazendo? A mente não está vazia, pelo contrário, começa a se irritar com o monte de pensamentos que insistem em permanecer estáticos ali. Respira, concentra, afinal rir de si mesmo é amar a si mesmo. E agora ela está irritada com o Mickey, e nada do interior se encher de paz. Desiste e vai procurar as crianças para não atrasar.

Ah, e tem o marido, quase ela ia esquecendo. Depois de tudo isso, não pode esquecer de acordar o marido antes de sair. Ele precisa ir trabalhar.

Bem-Vindas À Sociedade, Mulheres!

– Ela é belíssima, parece até um anjo!

– Anjo, hein! Ela é mulher, e as mulheres são falsas! Cheias de sortilégios!

E assim se desenrolava o diálogo dos anões ao encontrar Branca de Neve adormecida. E somente concordam que permaneça na casa após ela se comprometer com as tarefas domésticas.

Sim, é um filme antigo, mas que reflete exatamente a atualidade. Vivemos em um mundo machista. Muito machista. Talvez não vejamos mais cenas tão explícitas como esta em uma animação Disney, mas às vezes é até pior ver uma tentativa mal sucedida de disfarce nas entrelinhas.

E é um machismo tão entranhado no nosso dia a dia que muitas vezes nem reparamos nos absurdos que são feitos e ditos, tanto por homens como por mulheres.

Almoço de domingo, minha mãe arruma a mesa, lava a salada, esquenta e serve a comida. Nem percebo e estou ao seu lado lavando a louça ao final do almoço, enquanto minha cunhada guarda o restante da comida na geladeira e minha irmã passa pano na mesa. Enquanto isso, os homens se levantam da mesa e se sentam no sofá para conversar e assistir televisão.

Em uma reunião de trabalho, uma mulher educadamente levanta a mão para falar. Quando consegue falar, sua contribuição não é levada em consideração. Um homem interrompe a pessoa que está falando no momento, propõe exatamente a mesma ideia dada há poucos minutos atrás pela mulher e agora todos param para ouvir e, de repente, se torna uma excelente ideia.

O homem bem-sucedido cresceu por mérito, fruto de muito esforço, trabalho, resultados obtidos. A mulher bem-sucedida alguma vantagem ela obteve para chegar ali.

Machismo Enraizado

A mulher que decide não casar ou não ser mãe se torna menos mulher. Como não vai ser mãe? É a maior realização feminina!

E a mulher que é assediada e recebe a culpa? Com certeza ela que pediu por isso, devia estar dando mole, ou com roupa curta demais!

Mulher falando sobre futebol e surfe? Nem escuta, não entendem nada!

Em inúmeros locais, empresas, escolas, clubes, vemos aquela exposição em preto e branco dos defuntos. Os quadros dos presidentes desde a inauguração. Todos homens brancos. O que eles expõem com tanto orgulho, me causa revolta e tristeza.

Acredito que seja até mentalmente saudável não ter consciência de tudo o que acontece ao nosso redor. Gosto do conselho de em caso de excesso de lucidez, loucure-se.

E isso é só uma pontinha da montanha de preconceitos que insistimos em manter na sociedade, gênero, raça, religião, opção sexual. Precisa se loucurar muito para sobreviver.

Continue a nadar!

Estupidez Humana