Bem-Vindo ao Brasil! Assalto Incluído no Pacote!
Conteúdo
Normalização da Violência
Os japoneses criaram uma máquina para pegar ladrão e o sucesso foi estrondoso. Em território nipônico, a máquina pegou 4 ladrões em 5 horas. Na França, foram 15 ladrões em 5 horas. Nos Estados Unidos, 27 ladrões em 5 horas. No Brasil, em 5 minutos roubaram a máquina.
Fazemos piadas sobre assalto e violência como um mecanismo de defesa, uma tentativa de amenizar a sensação de insegurança constante. Afinal, é mais fácil rir da situação do que encarar que vivemos em um cenário onde a violência já virou rotina.
A Arte de Cooperar com o Ladrão
No carro, minha mãe deixava sempre a bolsa do ladrão, mas era perigoso deixar uma bolsa vazia ou somente com papéis e pedras, não podemos decepcionar o ladrão. Tem que colocar uma carteira velha com um pouco de dinheiro, um cartão da Blockbuster, alguns cartões de visita, a chave de um cadeado perdido, um celular velho, umas balinhas e uma escova de cabelo, para passar credibilidade ao ladrão.
Levei essa técnica para vida e ando com o celular do ladrão mais à mão e outro escondido dentro da bolsa. Mas já estou ficando preocupada pois o celular do ladrão está ficando muito fora de linha e o ladrão pode não gostar quando eu entregar a ele durante um assalto. Vou precisar trocar o celular do ladrão pois não posso entregar um celular ultrapassado ao bandido.
Em que mundo vivemos, meu Deus?
Instinto de Sobrevivência
Nos assustamos se alguém nos para na rua para pedir informação, suspeitamos do entregador de pizza encostado no portão do prédio, medimos a pessoa de cima a baixo na calçada ao escutar passos se aproximando atrás de nós. Se escutamos uma moto, a mão já começa a suar, se avistamos duas pessoas na moto, o coração dispara. Desconfiamos de tudo e de todos.
Ao sair de casa pela manhã, no elevador, eu já coloco minha aliança no bolso da calça e meu relógio e brincos dentro da mochila. Não ando mais de bolsa de ombro, somente bolsa atravessada ou mochila. Não passo maquiagem e prendo sempre o cabelo num coque esculhambado. O quão menos eu chamar atenção para mim, menos insegura me sinto. Chegando ao destino, solto o cabelo, passo um batom, coloco meu relógio, brincos e aliança. Que bela rotina!!
A Culpa é da Vítima
E os comentários quando alguém conta que sofreu um assalto? “Também, anda sozinha às onze da noite.”, “Fica dando bobeira com o celular. Pediu para ser assaltado.”. Confesso que tenho um pouco de preguiça de comentar quando escuto esse tipo de reação. O julgamento recai sobre a vítima.
A lógica é simples: se você foi roubado, a culpa é sua. Sair de casa sem um colete à prova de balas e um tanque blindado? Atitude irresponsável. E quem sofre o assalto dentro de casa? Não tem grades, câmeras, cerca elétrica, cachorro bravo, um bunker subterrâneo? Totalmente despreparado!
Quando o Ladrão Bate à Porta
Uma mãe de família cansada chega em casa no final do dia e seu filho diz “Mãe, hoje veio um ladrão aqui em casa”. A mãe desesperada pergunta “Meu Deus, meu filho! O que ele levou?”. O filho responde calmamente “Não levou nada! Ele veio somente pedir o seu voto”.
Sim, e ainda temos nossos políticos. Não é incrível como o ladrão político vem de mãos vazias, mas promete o mundo? E nós ainda damos a ele o poder de decidir o nosso futuro. Votamos no “menos pior” porque, na verdade, não temos muita escolha. O que mais entristece não é ser representado por péssimos políticos, mas que nossos representantes refletem exatamente a nossa população, pessoas totalmente despreparadas, sem qualquer estudo ou educação.
Resumo da Tragédia
O desemprego e a imensa desigualdade social potencializam o aumento da criminalidade. E a população se sente totalmente impotente.
A violência entrou tanto na rotina que normalizamos situações que não deveriam nunca ser normalizadas.
Estou andando na rua, vem três caras de moto armados, passo tudo, eles vão embora com meu celular, minha carteira, minha aliança, meus documentos, minha chave de casa e eu ainda agradeço por estar viva. São apenas bens materiais. Sim, são apenas bens materiais. Mas estou com um ódio enorme dentro de mim desses três filhos da puta! Caralho!
